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2021

Raider Técnico

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© Três agá

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“Vinícius de Moraes e José Afonso nasceram com um intervalo de dezasseis anos. Um, saído da cepa do Zodíaco dominada pela Balança. O outro, vindo da casa do Leão. Talvez Fernando Pessoa tivesse podido traçar-lhes um horóscopo. Ambos assistiram à treva que apagou a civilização a meio do seu século. Foi sobre o renascimento do pós-guerra que ensaiaram a obra que coexistiria sob o tecto comum da língua portuguesa. Une-os, portanto, a árvore da língua, a madeira das palavras e dos violões. A separá-los, um Brasil gigantesco afirmando- se no mundo, e um Portugal ensimesmado, incapaz de ler o espírito do tempo, agarrando-se à memória mítica que sublima a possibilidade da grandeza feliz enraizada no presente. Sobre as espumas oceânicas e as linhas de fronteiras, desalfandegam-se bagagens, ritmos, vozes, melodias, danças, lágrimas, almas anotando tudo em livros de horas refundindo cancioneiros pela mão dos novos poetas e compositores. Vinícius encabeçou a década dourada do Rio de Janeiro, foi observador e fauno da luxuriante diversidade brasileira. José Afonso, andarilho das ruínas do império, portador da litania saudosa de Coimbra, foi traficante das cadências de Angola e de Moçambique. Nesse cadinho, fundiu a canção de protesto ao serviço dum desejo libertário, o punho lírico convidando a História a mover-se. Mas não só: a sua obra vai além da luta; mira-se no espelho da tradição poética lusa e faz adendas melódicas e rítmicas que influenciarão os vindouros.


Tal como Vinícius canta a leveza do Leblon e de Ipanema fazendo dela um selo do novo Brasil, Zeca canta a portugalidade cismática, cativa do destino, instando-a a rachar o espelho para acordar da estase. Que pontos unem estes dois vultos navegando a mesma jangada do verbo e do tempo em terras opostas? Como se cruzam os seus discursos? Onde se tocam os seus universos? Vinícius é filho dum Rio de Janeiro cosmopolita e sensual. No célebre registo discográfico em casa de Amália, ele, convidado de honra, lê extractos de Orfeu Negro — a peça que escandalizou o conservadorismo racial do Rio e marcou o seu encontro com António Carlos Jobim. Comovido, agradece o acolhimento caloroso da anfitriã, e exorta os portugueses a desengravatarem-se e a despirem o formalismo. Era essa ideia que os brasileiros cultos tinham dos portugueses: gente formalizada pela História, auto excluída do mundo, engravatada pela nó corrediço da tristeza e da decadência.  Estrada Branca explora uma fresca dessa copa, é uma pequena via bordejada pela folhagem das palavras, cotejando as cantigas de Zeca e Vinícius através de duas vozes herdeiras do acervo comum: Mónica Salmaso e José Pedro Gil — Novo tempo.”


Carlos Tê

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Estrada Branca

Estrada Branca é um projeto que celebra a língua portuguesa, resgatando e cruzando a música de dois ícones incontornáveis das culturas Brasileira e Portuguesa. Vinicius de Moraes e José Afonso, nasceram com um intervalo de 16 anos e foi sob o renascimento do pós-guerra, que ensaiaram uma obra que coexistiria sob a árvore da língua portuguesa.


Este concerto é interpretado através de duas vozes contemporâneas, herdeiras de uma acervo comum: A muito agraciada cantora paulista Mônica Salmaso e o cantor José Pedro Gil.

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